ONG que cuida de 22 crianças com HIV deixou de receber verba de emendas parlamentares.
Imagine gerir uma casa com 22 crianças e jovens, com idade entre 4 e 17 anos e que precisam de cuidados especiais. Lucinha Araújo faz isso há 19 anos na Sociedade Viva Cazuza, ONG que criou três meses após perder o filho para a AIDS e que dá casa, comida, roupa, escola, assistência médica e amor a meninas e meninos soropositivos - em sua maioria, sem pai nem mãe.
A entidade, em um imóvel em Laranjeiras, passa pela sua pior crise financeira. As despesas mensais somam R$ 60 mil, mas o dinheiro arrecadado com os direitos autorais de Cazuza, sua única receita, só cobrem 20% disso. A maior parte dos gastos é com pessoal, já que muitos profissionais dividem os quatro turnos de trabalho: cozinheiras, faxineiras, lavadeiras, enfermeiras. A dificuldade financeira levou à redução do número de babás.
Mas Lucinha não desiste. Por meio de ministros que conhece, quer marcar uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para pedir socorro. "Somos a única casa de apoio a soropositivos no Rio", diz. Além de Lula, ela está em busca de ajuda no meio empresarial.
O caixa da ONG só esteve cheio nos anos de 2004 e 2005 - o sucesso do filme Cazuza - O Tempo Não Para, de Sandra Werneck, lhe rendeu R$ 400 mil. Nos últimos cinco anos, tudo desandou, porque a verba que chegava graças a emendas de parlamentares do Rio deixou de vir.
"A burocracia piorou", explica Christina Moreira, coordenadora de projetos da Sociedade Viva Cazuza, referindo-se a mudanças introduzidas pelo governo Lula.
O problema é que contribuições esporádicas não garantem o funcionamento de uma casa que não fecha nunca. "A AIDS saiu de moda, virou banal", diz Lucinha. Outra questão: muita gente tende a achar que, por ser de família rica, ela não precisa de ajuda. "Confundem pessoa física com pessoa jurídica e pensam: ?Por que ela não vende tudo e coloca o dinheiro lá??".
O Estado de São Paulo: 10.08.09